segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Muitas vezes, distante de minha amada, ouvia no meu coração as letras deste poema "Posso escrever os versos mais tristes esta noite., Meu coração a procura, e ela não está comigo. Porque em noites como esta eu a tive em meus braços,

Fiz algumas mudanças no poema. adaptando-o ao momento da perda, da última separação, de minha amada esposa..


PABLO NERUDA

(1904-1973)

Veinte Poemas de amor y una canción desesperada (1924)

Poema XX

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe”.
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a desejei, e  ela também me desejou.
Nas noites como esta eu a tive em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ele me desejou,  eu também a desejava.
Como não ter amado os seus grandes olhos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho mais. Sinto que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho que seca.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta em tê-la perdido.
Como para aproximá-la o meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, e eu já não sou o mesmo.
Ainda  a desejo, é verdade, tanto quanto a desejei.
Minha voz procura o vento para tocar o seu ouvido.
Procuro ainda sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Ainda a desejo como antes, é certo, mas como esquecê-la?
É tão curto o amor, e é tão longa a separação.
Porque em noites como esta eu a tive em meus braços,
a minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Ainda que  esta não seja a última dor que ela me causa,
e estes não sejam os últimos versos que lhe escrevo.

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