sábado, 21 de janeiro de 2017





Poema 2016 / 13
06 / 12 / 16

Se em novembro despeço-me de Leonard,
em dezembro perco os passos de Gullar.

Os dias são de espelhos,
ora refletem a luz da manhã,
ora as sombras porque passo.

São os dias do muito lembrar.
São as horas do pouco sentir.

Aos poucos os heróis se vão,
como todo homem um dia alcança.

São os dias do muito lembrar.
São as horas e os minutos em que
deixo de ser criança.


Leonard Cohen – faleceu em 7 de novembro.
Ferreira Gullar – faleceu em 4 de dezembro de 2016.


Poema 2016 / 11
20 / 9 / 16

EM ALGUM LUGAR
Em algum lugar,
um moço toma a amada
pela mão pela primeira vez.

Em algum lugar,
um ancião segura a mão
da amada pela última vez
e ouve uma canção.

Em algum lugar,
alguém  escreve um poema
para a amada e rasga
por temer o silêncio como
                              resposta.

Em algum lugar,
alguém ouve uma melodia,
pensa ser jovem de novo
e dança solitário na casa.

Em algum lugar,
alguém lê um poema e
não encontra nele o grito
 da alegria porque está triste.

Em algum lugar,
um  pássaro pousa
nas mãos de uma criança 
e pensamos ser um anjo
anunciando as boas novas.

Porque o poema não é o
vento nas folhagens,
não é a luz nos montes,
não é a miragem na paisagem nua,
não é a sombra do dia de calor,
não é a noite sonhada no meio dia
e nem o dia sonhado à meia noite.
O poema, meu amigo, é nutrido

pelas sementes da alma.